Blog do Waldemar

FUNDO DO POÇO: Para futuro ministro, Escola Sem Partido é “providência fundamental” e golpe de 64, evento a ser comemorado

O filósofo Ricardo Vélez Rodríguez, anunciado pelo presidente eleito Jair Bolsonaro como futuro ministro da Educação, vê a implantação do projeto Escola Sem Partido como uma “providência fundamental” para o Brasil e o golpe militar de 1964 como um evento a ser comemorado pelos brasileiros por ter livrado o país do comunismo. Para ele, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) virou um “instrumento de ideologização” em vez de medir os conhecimentos dos estudantes.

CONGRESSO EM FOCO

 

Essas são algumas das posições do colombiano naturalizado brasileiro que venceu a concorrência para comandar o Ministério da Educação. O nome dele foi confirmado ontem à noite após pressão da bancada evangélica contra a possível indicação do professor Mozart Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna, para o cargo. A bancada também tentou emplacar o procurador da República Guilherme Schelb, outro defensor do Escola Sem Partido. Mas Bolsonaro optou pelo professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.

Ricardo mantém um blog na internet chamado “Rocinante”, referência ao cavalo de Dom Quixote de la Mancha, do clássico de Miguel de Cervantes. Em artigo publicado no último dia 7, ele conta que foi indicado ao cargo pelo escritor Olavo de Carvalho, uma das referências políticas da família Bolsonaro.

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Refundação

Embora o convite só tenha sido feito ontem, Ricardo já traçava ali o seu plano de voo: “Enxergo, para o MEC, uma tarefa essencial: recolocar o sistema de ensino básico e fundamental a serviço das pessoas e não como opção burocrática sobranceira aos interesses dos cidadãos, para perpetuar uma casta que se enquistou no poder e que pretendia fazer, das instituições republicanas, instrumentos para a sua hegemonia política”, escreveu.

Segundo ele, essa tarefa de refundação passa pelo enquadramento do MEC “no contexto da valorização da educação para a vida e a cidadania a partir dos municípios, que é onde os cidadãos realmente vivem”.

Na visão do futuro ministro, a proliferação de leis e regulamentos tornou os brasileiros reféns de um sistema de ensino alheio às suas vidas e afinado com a tentativa de impor à sociedade “uma doutrinação de índole cientificista e enquistada na ideologia marxista, travestida de ‘revolução cultural gramsciana’”.

“Invenções deletérias”

Ricardo Vélez Rodríguez critica o que chama de “invenções deletérias” como a educação de gênero, “a dialética do ‘nós contra eles’ e uma reescrita da história em função dos interesses dos denominados ‘intelectuais orgânicos’, destinada a desmontar os valores tradicionais da nossa sociedade, no que tange à preservação da vida, da família, da religião, da cidadania, em soma, do patriotismo”. Por causa de posições como essa, sua indicação foi bem recebida pela bancada evangélica.

No mesmo artigo, o futuro ministro diz que as provas do Enem deixaram de ser “meios sensatos para auferir a capacitação dos jovens no sistema de ensino” para virar “instrumentos de ideologização”. Ricardo defende que os ensinos básico e fundamental sejam oferecidos pelos municípios.

“As instâncias federal e estaduais entrariam simplesmente como variáveis auxiliadoras dos municípios que carecessem de recursos e como coadunadoras das políticas que, efetivadas de baixo para cima, revelariam a feição variada do nosso tecido social no terreno da educação, sem soluções mirabolantes pensadas de cima para baixo, mas com os pés bem fincados na realidade dos conglomerados urbanos onde os cidadãos realmente moram”.

Para o futuro ministro, suas ideias para a Educação podem ser resumidas em uma frase: “’Menos Brasília e mais Brasil’, inclusive no MEC. Essa seria a minha proposta, que pretende seguir a caminhada patriótica empreendida pelo nosso presidente eleito”.

1964 contra o comunismo

Em outro texto, publicado em 2017, Ricardo Vélez Rodríguez diz que o dia 31 de março de 1964, que marca o golpe militar no Brasil, é “uma data para lembrar e comemorar”. “Nos treze anos de desgoverno lulopetista os militantes e líderes do PT e coligados tentaram, por todos os meios, desmoralizar a memória dos nossos militares e do governo por eles instaurado em 64”, alegou.

O futuro ministro chamou a Comissão Nacional da Verdade, que investigou crimes de natureza política cometidos durante a ditadura militar, como “uma encenação para ‘omissão da verdade’” e “a iniciativa mais absurda que os petralhas tentaram impor”. Para ele, os militares cumpriram um “patriótico papel”, ainda que tenham cometido falhas na economia e “excessos no que tange à repressão”.

A “revolução” de 1964, segundo ele, livrou o Brasil do comunismo. “As Forças Armadas foram chamadas pela sociedade civil, a fim de que corrigissem o rumo enviesado pelo que o populismo janguista tinha feito enveredar a nau do Estado. Um populismo irresponsável que ameaçou com esgarçar o tecido social, nos conduzindo perigosamente para o confronto civil. Era tudo o que os comunas queriam a fim de fazer o que sempre fizeram: pescar em águas turvas.”

Ainda no mesmo artigo, Ricardo Vélez lembra do título de professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e diz que está à disposição das Forças Armadas. “Continuo a prestar os meus serviços, quando chamado a colaborar em projetos de interesse das nossas Forças Armadas, desde a minha posição de professor de ensino superior aposentado.”

Educação familiar

Em outro artigo, publicado em 5 de setembro de 2017, o filósofo defende a aprovação do projeto Escola Sem Partido, em votação em comissão especial na Câmara. Para ele, a educação familiar não pode ser substituída pelo Estado.

“Escola sem partido. Esta é uma providência fundamental. O mundo de hoje está submetido, todos sabemos, à tentação totalitária, decorrente de o Estado ocupar todos os espaços, o que tornaria praticamente impossível o exercício da liberdade por parte dos indivíduos. É o velho princípio escolástico da ‘subsidiariedade’, que devemos defender hoje. Ao Estado compete prover aquilo que não pode ser garantido, no convívio social, pelos corpos intermediários. Ora, no contexto destes situa-se a educação familiar. Ela não pode ser substituída pelo Estado.

O futuro ministro da Educação também fez críticas diretas ao ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, a quem acusou de tramar contra o presidente Michel Temer com as delações do grupo JBS. Ele classificou como “fake” a investigação que resultou até agora em duas denúncias criminais contra Temer baseada nos depoimentos e gravações do empresário Joesley Batista.

“República sem bambu. Em face da guerra do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra as instituições republicanas, é necessário que acabe logo essa maluca aventura que está beirando a comédia pastelão. Não satisfeito com tentar criar a instabilidade atacando o presidente da República com uma fake investigação montada com corruptos empresários, o bravo procurador quer, agora, diante do fiasco em que se meteu, dar flechadas nos próprios delatores, como se pudesse atingi-los sem atingir a própria onda investigativa por ele irresponsavelmente desatada, com fins evidentemente políticos”, atacou.

Após a revelação de que os delatores haviam omitido informações em seus depoimentos, Ricardo Vélez Rodríguez disse que o “honorável público” havia matado a “charada” ao descobrir as “fórmulas salvíficas” de Janot.

Veja a íntegra dos três artigos publicados pelo futuro ministro em seu blog:

“UM ROTEIRO PARA O MEC
7 de novembro de 2018

Amigos, escrevo como docente que, através das vozes de algumas pessoas ligadas à educação e à cultura (dentre as quais se destaca o professor e amigo Olavo de Carvalho), fui indicado para a possível escolha, pelo Senhor Presidente eleito Jair Bolsonaro, como ministro da Educação.

Aceitei a indicação movido unicamente por um motivo: tornar realidade, no terreno do MEC, a proposta de governo externada pelo candidato Jair Bolsonaro, de “Mais Brasil, menos Brasília”. Acho que o nosso Presidente eleito ganhou definitivo apoio da sociedade brasileira no pleito eleitoral recente, em decorrência de um fator decisivo: ele foi o único candidato que soube traduzir os anseios da classe média, que externou a insatisfação de todos os brasileiros com os rumos que os governos petistas imprimiram ao país ao ensejar uma tresloucada oposição de raças, credos, nós contra eles, como se não pudêssemos, os habitantes deste país, sedimentar alguns consensos básicos em relação ao nosso futuro. Jair Messias Bolsonaro foi eleito em razão deste fato: traduziu, com coragem e simplicidade, os anseios da maioria dos eleitores. A sua campanha, carente de tempo na mídia e de recursos, ameaçava não decolar. Decolou, e, mais ainda, ganhou as praças e ruas, através de meios singelos de comunicação como o Smartphone e a Internet, coisas que o brasileiro comum utiliza no seu dia a dia desta quadra digital da nossa sociedade tecnológica.

Como professor e intelectual que pensa nos paradoxos estratégicos do Brasil, apostei desde o início no candidato Bolsonaro. Achei a sua proposta de escutar o que as pessoas comuns pensam uma saída real para a insatisfação e a agonia que as sufocavam, nesses tempos difíceis em que se desenhava, ameaçadora, a hegemonia vermelha dos petistas e coligados. Graças a Deus o nosso candidato saiu vencedor, numa campanha agressiva em que foram desfraldadas inúmeras iniciativas de falseamento das propostas e de fake news, e em que pese o fato de que ele próprio tivesse de pagar um preço alto com a facada de que foi vítima em Juiz de Fora, desferida por um complô do crime organizado com os radicais de sempre.

Enxergo, para o MEC, uma tarefa essencial: recolocar o sistema de ensino básico e fundamental a serviço das pessoas e não como opção burocrática sobranceira aos interesses dos cidadãos, para perpetuar uma casta que se enquistou no poder e que pretendia fazer, das Instituições Republicanas, instrumentos para a sua hegemonia política. Ora, essa tarefa de refundação passa por um passo muito simples: enquadrar o MEC no contexto da valorização da educação para a vida e a cidadania a partir dos municípios, que é onde os cidadãos realmente vivem. Acontece que a proliferação de leis e regulamentos sufocou, nas últimas décadas, a vida cidadã, tornando os brasileiros reféns de um sistema de ensino alheio às suas vidas e afinado com a tentativa de impor, à sociedade, uma doutrinação de índole cientificista e enquistada na ideologia marxista, travestida de “revolução cultural gramsciana”, com toda a coorte de invenções deletérias em matéria pedagógica como a educação de gênero, a dialética do “nós contra eles” e uma reescrita da história em função dos interesses dos denominados “intelectuais orgânicos”, destinada a desmontar os valores tradicionais da nossa sociedade, no que tange à preservação da vida, da família, da religião, da cidadania, em soma, do patriotismo.

Na linha dos pre-candidatos ao cargo de ministro da Educação foram aparecendo, ao longo das últimas semanas, propostas identificadas, uma delas, com a perpetuação da atual burocracia gramsciana que elaborou, no INEP, as complicadas provas do ENEM, entendidas mais como instrumentos de ideologização do que como meios sensatos para auferir a capacitação dos jovens no sistema de ensino.

Outra proposta apareceu, afinada com as empresas financeiras que, através dos fundos de pensão internacionais, enxergam a educação brasileira como terreno onde se possam cultivar propostas altamente lucrativas para esses fundos, mas que, na realidade, ao longo das últimas décadas, produziram um efeito pernicioso, qual seja o enriquecimento de alguns donos de instituições de ensino, às custas da baixa qualidade em que foram sendo submergidas as instituições docentes, com a perspectiva sombria de esses fundos baterem asas quando o trabalho de enxugamento da máquina lucrativa tiver decaído. Convenhamos que, em termos de patriotismo, essas saídas geram mais problemas do que soluções.

Aposto, para o MEC, numa política que retome as sadias propostas dos educadores da geração de Anísio Teixeira, que enxergavam o sistema de ensino básico e fundamental como um serviço a ser oferecido pelos municípios, que iriam, aos poucos, formulando as leis que tornariam exequíveis as funções docentes. As instâncias federal e estaduais entrariam simplesmente como variáveis auxiliadoras dos municípios que carecessem de recursos e como coadunadoras das políticas que, efetivadas de baixo para cima, revelariam a feição variada do nosso tecido social no terreno da educação, sem soluções mirabolantes pensadas de cima para baixo, mas com os pés bem fincados na realidade dos conglomerados urbanos onde os cidadãos realmente moram.

Essa proposta de uma educação construída de baixo para cima foi simplesmente ignorada pela política estatizante com que Getúlio Vargas, ao ensejo do Estado Novo, pensou as instituições republicanas, incluída nela a educação, no contexto de uma proposta tecnocrática formulada de cima para baixo, alheando os cidadãos, que passaram a desempenhar o papel de fichas de um tabuleiro de xadrez em que quem mandava era a instância da União, sobreposta aos municípios e aos Estados.

“Menos Brasília e mais Brasil”, inclusive no MEC. Essa seria a minha proposta, que pretende seguir a caminhada patriótica empreendida pelo nosso Presidente eleito.”

31 DE MARÇO DE 1964: É PATRIÓTICO E NECESSÁRIO RECORDAR ESSA DATA 
1 de abril de 2017

Amigos, esta é uma data para lembrar e comemorar. A esquerda pretende negá-la. Mas não pode. Porque ela foi incorporada à nossa memória como Nação. 64, aliás, não foi fruto exógeno aos brasileiros. As Forças Armadas foram chamadas pela sociedade civil, a fim de que corrigissem o rumo enviesado pelo que o populismo janguista tinha feito enveredar a nau do Estado. Um populismo irresponsável que ameaçou com esgarçar o tecido social, nos conduzindo perigosamente para o confronto civil. Era tudo o que os comunas queriam a fim de fazer o que sempre fizeram: pescar em águas turvas.

64 foi uma Revolução, dessas institucionais que vingaram na tradição luso-brasileira. Como a vinda da Corte portuguesa para o Brasil, em 1808. Como o grito do “fico” de 1822, pronunciado pelo Príncipe Regente. Como o movimento revolucionário institucional que desaguou na política do Regresso em 1840 que pôs fim aos conflitos civis que pipocavam aqui e acolá, ameaçando a unidade do território brasileiro. Revolução Institucional como, aliás, os Ingleses fizeram em 1688, na denominada “Glorious Revolution” que deu cabo ao absolutismo e instaurou a duradoura Monarquia Constitucional que viceja ainda hoje em terras britânicas. Revolução institucional como a de 1889 que proclamou a República, sem sangue. Revolução reformadora como a protagonizada pelos gaúchos sob o comando de Getúlio Vargas, na Aliança Liberal com os mineiros e os paraibanos em 1930, que marcou o fim da dominação oligárquica ensejada pela política dos governadores na República Velha. Diferentes são as nossas revoluções das que vingaram no universo hispano-americano, inspiradas no democratismo rousseauniano e semeadoras de repúblicas instáveis. Somente na Colômbia, entre 1810, data do grito da independência, e 1900, contabilizaram-se 65 guerras civis. Panorama semelhante vingou em toda a América Espanhola, desde o México até os territórios gelados do sul do Continente. Instabilidade que contrastava com a estabilidade ensejada pelo Império Brasileiro, com a prática do parlamentarismo ao longo de praticamente meio século.

64, vale sim afirmá-lo, nos livrou do comunismo. Nos poupou os rios de sangue causados pelas guerrilhas totalitárias que, na Colômbia, por exemplo, no conflito que ora se encerra, ceifou mais de 300 mil vidas e obrigou a sair do país a mais de 5 milhões de colombianos, no longo período que vai de 1948 até os dias atuais. Não tivessem os militares brasileiros agido com força para desmantelar a “República do Araguaia”, teríamos tido o nosso “Caguán” (o território “livre” do tamanho do Estado do Rio de Janeiro, situado no coração da Colômbia e a partir do qual as Farc chegaram quase a balcanizar o país vizinho).

Nos treze anos de desgoverno lulopetista os militantes e líderes do PT e coligados tentaram, por todos os meios, desmoralizar a memória dos nossos militares e do governo por eles instaurado em 64. A malfadada “comissão da verdade” que, a meu ver, consistiu mais numa encenação para “omissão da verdade”, foi a iniciativa mais absurda que os petralhas tentaram impor, junto com o famoso decreto de 2009 que estabelecia a chamada “Política de Direitos Humanos”, segundo a qual os coletivos sindicais iriam tomar posse praticamente de todas as instâncias do poder, em nível federal, estadual e municipal, chegando até à formulação de uma nova versão de “direitos humanos” identificados unicamente com a defesa da república sindical lulopetista.

Felizmente a opinião pública, incluindo as Forças Armadas, reagiu em tempo e os petralhas não conseguiram implantar esse embuste marxista, que tinha como única finalidade fortalecer o PT de forma a que se tornasse o “novo príncipe” hegemônico apregoado por Gramsci, a fim de garantir a definitiva instalação de Lula e a sua caterva no poder. Sabemos hoje que a “revolução” pretendida pelo PT consistia em roubar sem nenhuma oposição. Essa é a mensagem que passam as duas operações que a Justiça realizou e ainda realiza contra a petralhada e os seus colaboradores, no julgamento do “Mensalão” e na “Operação Lava Jato”.

Reconhecer o importante e patriótico papel desempenhado pelas Forças Armadas em 64 não significa, de forma alguma, sacramentar todas as ações efetivadas pelos governos castrenses nos vinte anos à frente do poder, como se não tivesse sido cometido nenhum erro. É fundamental, contudo, à luz da história, reconhecer o que de positivo deixou-nos o ciclo militar. O Brasil instaurou de forma definitiva uma economia industrial; houve efetiva modernização no setor da produção ligado à petroquímica e à indústria de álcalis; as telecomunicações foram modernizadas; a produção de aço cresceu de forma a atender à crescente demanda do mercado; foi promulgado o “Estatuto da Terra” com a finalidade de equacionar os conflitos do setor, definindo o arcabouço legal da posse do campo com vistas à dinamização da agricultura; foi resolvida a grande questão da integração nacional mediante ousado plano de construção de rodovias e ferrovias, etc.

Mas houve falhas. No plano das políticas econômicas, como frisava Roberto Campos, que foi ministro de planejamento do marechal Castelo Branco, os governos seguintes exageraram no crescimento estatal da economia: as empresas do setor passaram de 96, no início do período, para 390, num crescimento realmente assombroso e desnecessário que terminou gerando pesada e cara burocracia. O protecionismo ensejou dificuldades para o setor privado. A lei de informática terminou cartorializando o setor e afastando investidores numa área vital para o desenvolvimento: até o hoje o Brasil se ressente com o atraso gerado pela Secretaria Especial de Informática.

Claro que aqui se torna necessária uma aclaração: o governo militar instaurou essa política com apoio estrondoso da sociedade, do setor industrial e dos próprios intelectuais. Lembremos o corajoso discurso de Roberto Campos, em que o senador mato-grossense tentava convencer os seus pares acerca da insensatez da política de fechamento de fronteiras em matéria de informática, que somente traria obstáculos para a indústria e o desenvolvimento da tecnologia no Brasil. O ufanismo nacionalista terminou atrapalhando o desenvolvimento do país.

Do ponto de vista político, os governos militares, notadamente os presididos pelos generais gaúchos, congelaram o aperfeiçoamento da representação parlamentar, ao submeter o Congresso a uma pesada liturgia de obediência ao Executivo hipertrofiado. Períodos de exceção são ruins em termos de aprendizado democrático. E houve excessos no que tange à repressão. Mas é importante lembrar que, se aproximando o fim o regime militar, foi aprovada a Lei de Anistia que possibilitou a volta dos exilados e a formação de partidos políticos de oposição por parte deles. Seria uma aberração, como pretenderam os petistas, fazer regredir o relógio da história, como se não tivesse havido Lei de Anistia, a fim de perseguir os desafetos da derrotada e ressentida militância da esquerda radical. Esse foi um desserviço à Nação que felizmente não prosperou.

Os militares, encetada a abertura, escolheram de forma errada o seu inimigo principal. Este passou a ser identificado com os liberais, deixando tranquilos os antigos militantes da esquerda totalitária que ocuparam espaços importantes nos escalões inferiores dos ministérios, notadamente dos ligados à educação e à ciência e tecnologia. Foi um erro que ceifou as antigas lideranças liberais e de esquerda moderada, retrasando a possibilidade de se elaborarem propostas criativas, como as que de fato foram apresentadas tempos depois, do ângulo da social-democracia. Mas ficou um buraco: não conseguiram se estruturar partidos de inspiração liberal com propostas pé-no-chão, que somente amadurecem mediante a longa prática democrática. O clientelismo dos mandões locais ocupou espaços e terminou reforçando o Estado patrimonial e a sua infindável prática da corrupção no varejo dos municípios e sertões. As portas estavam abertas para a operação de “engenharia da corrupção” montada pelo presidente Lula (ex x-9 do governo militar já no final do ciclo) e continuada pelos seus “postes”.

Os nossos militares prepararam os seus quadros de oficiais para se inserirem no Brasil democrático, abrindo espaço ao público feminino e com pleno respeito às lideranças civis legítimas surgidas do voto popular e às instituições do governo representativo. Acompanhei os esforços da elite militar ao longo dos anos 80 nesse sentido. Houve reformulação de planos de ensino na AMAN e nas demais escolas militares. Hoje os oficiais das Forças Armadas Brasileiras constituem um corpo altamente técnico e consciente dos seus deveres de defender a Pátria no marco da Constituição, sem interferências diretas no jogo do poder, mas preservando, sempre, a atenção voltada para os desafios estratégicos que se impõem ao nosso país na atual conjuntura do mundo globalizado. As Forças Armadas Brasileiras passaram a colaborar de forma sistemática nas Operações de Paz da ONU. A presença dos nossos oficiais, sub-oficiais e praças das três armas tornou-se corriqueira, junto aos capacetes azuis das Nações Unidas.

Orgulhosamente ostento os meus títulos de “professor emérito da ECEME” e de “colaborador emérito do Exército” com que fui agraciado nas décadas de 80 e 90. E continuo a prestar os meus serviços, quando chamado a colaborar em projetos de interesse das nossas Forças Armadas, desde a minha posição de professor de ensino superior aposentado.

INDEPENDÊNCIA: ESCOLA SEM PARTIDO, REPÚBLICA SEM BAMBÚ
5 de setembro de 2017

Qual é o sentido da Independência brasileira? A meu ver, esse sentido depende de duas respostas. Em primeiro lugar, qual é o valor supremo do nosso convívio social? Em segundo lugar, quais seriam as medidas que nos permitiriam, hoje, manter vivo esse valor?

O valor supremo do nosso convívio social deve ser a Liberdade. Incondicional. Sem adjetivos. A liberdade de ir e vir. A liberdade de pensar e de falar. A liberdade de tocar a própria vida do jeito que acharmos melhor. A liberdade de educarmos os nossos filhos de acordo aos valores tradicionais em que acreditamos. A liberdade de termos fé, sem que nenhuma organização queira nos impor um credo. A liberdade para todos, não apenas para uma minoria de felizardos.

Quais seriam as medidas que nos permitiriam, hoje, manter vivo esse valor? Considero que aqui devem ser inseridas as providências que tornam viável a nossa liberdade individual. A primeira, a tolerância para com quem diverge de nós. Em segundo lugar, a existência de instituições que nos permitam lutar em prol da defesa da liberdade no convívio social. Aqui colocaria como principal exigência o aperfeiçoamento da representação. Esta consistiu na grande conquista da modernidade, à luz do Liberalismo. Não pode haver exercício da liberdade no mundo moderno sem a prática do governo representativo. O aperfeiçoamento do voto e das condições institucionais para que a representação funcione, são exigências básicas.

Mas é fundamental também, para a defesa da liberdade, que tenhamos um plano de ação claro e eficiente em face dos inimigos da Liberdade. Duas medidas, a meu ver, se tornam imperativas hoje no Brasil: Escola sem partido e, em segundo lugar, República sem bambu.

Escola sem partido. Esta é uma providência fundamental. O mundo de hoje está submetido, todos sabemos, à tentação totalitária, decorrente de o Estado ocupar todos os espaços, o que tornaria praticamente impossível o exercício da liberdade por parte dos indivíduos. É o velho princípio escolástico da “subsidiariedade”, que devemos defender hoje. Ao Estado compete prover aquilo que não pode ser garantido, no convívio social, pelos corpos intermediários. Ora, no contexto destes situa-se a educação familiar. Ela não pode ser substituída pelo Estado. O Pátrio Poder precisa ser preservado. Todos os totalitarismos do século XX partiram para negar esse sagrado poder de a família educar os seus filhos. É a tentação do “politicamente correto” que se esconde hoje, por exemplo, nas propostas da “educação de gênero” veiculadas pelos gramscianos e outros grupos de inimigos totalitários da liberdade. No nosso país essa mefistofélica proposta está ameaçando as famílias. É uma das desgraças herdadas do lulopetismo, hoje replicada pela esquerda metida a sabichona. Essa proposta conta, aliás, com fortes aliados pelo mundo afora, inclusive dentro da Organização das Nações Unidas, onde a esquerda internacional tem os seus tentáculos. A ideologia de gênero é uma aberração que se destila desde algumas minorias intelectuais como por exemplo as que na Noruega defendem essa radical visão. Contra o globalismo politicamente correto que adotou a maluca proposta da “educação de gênero” devemos nos erguer com persistência. Essa maluquice, esse crime contra as nossas famílias, não pode prosperar no Brasil.

República sem bambu. Em face da guerra do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, contra as instituições republicanas, é necessário que acabe logo essa maluca aventura que está beirando a comédia pastelão. Não satisfeito com tentar criar a instabilidade atacando o Presidente da República com uma fake investigação montada com corruptos empresários, o bravo Procurador quer, agora, diante do fiasco em que se meteu, dar flechadas nos próprios delatores, como se pudesse atingi-los sem atingir a própria onda investigativa por ele irresponsavelmente desatada, com fins evidentemente políticos. Os exageros messiânicos de Janot, esse é o pior inimigo da Operação Lava Jato, que, aliás, deve continuar. É claro que o Procurador Geral da República foi picado pela mosca azul. É claro que, antes de deixar o cargo, neste mês, ele pretende pavimentar o caminho para aparecer como salvador da pátria. Mas é claro também que o destino lhe pregou uma peça com a sua própria sofreguidão. Senhor Janot, pare de tentar nos assombrar com as suas fórmulas salvíficas. O honorável público já matou a charada. É melhor o senhor vestir logo o pijama da aposentadoria regiamente paga que o espera e parar de atrapalhar a vida dos brasileiros.

Sem esses dois empecilhos, graças às sadias providências da “Escola sem partido” e da “República sem bambu”, certamente poderemos comemorar a contento o dia da Independência. Não precisamos de tutores nem de salvadores da Pátria. Basta com que nos deixem viver em liberdade, preservando as Instituições que a defendem. Feliz dia da Independência!

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